O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine
07:59Entrem, sentem-se, o espetáculo vai começar!
Hoje vos falo de um livro que se desvincula com êxito de qualquer fórmula pronta que um uma narrativa possa ter. O Circo Mecânico Tresaulti foi um dos primeiros livros lançados pela editora Darkside Books, originalmente sendo publicado em uma versão brochura que logo ganhou o coração de vários leitores e acabou esgotando. No entanto, esse ano a editora trouxe o espetáculo de volta para os leitores numa edição de luxo fantástica. Ambas as edições contam com ilustrações maravilhosas do brasileiro Wesley Rodrigues.
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Em pleno cenário pós-apocalíptico, O Circo Mecânico Tresaulti ergue sua lona e dá início ao grande espetáculo. Ambientado sobre a perigosa superfície de um mundo devastado, cheio de bombas e radiação remanescentes de uma guerra pela qual todos já saíram derrotados, este belo romance nos apresenta uma caravana circense em eterna viagem através de muitas cidades sem país, região ou rota definida. Lugares que podem não mais existir quando o circo retornar. Aqueles que se juntam ao circo procuram segurança, trabalho sem risco de vida ou apenas uma nova forma de recomeçar. E seguir adiante, apesar de tudo.
Este não é um livro qualquer, muito menos um livro normal. O Circo Mecânico Tresaulti é incômodo, é reflexivo e é excepcionalmente encantador. Em um cenário pós guerra, no que parece ser um mundo totalmente tomado por desgraças, está o circo mecânico. Comandando o circo está Boss, uma mulher que nos primeiros momentos já se mostra forte e exercedora de uma grande influência sobre sua trupe. O circo não é convencional, Boss está longe de ser uma figura comum, e a trupe... bem, a trupe é estranhamente bonita. O circo é a casa de Boss, a trupe é sua família e, em partes, é também sua criação. O mundo perdeu toda a graça, não se sabe se já teve, mas por hora é exatamente assim que eu o vejo nas descrições de Genevieve: cinza e triste. Os habitantes desse mundo estranho estão desolados: Muitos perderam tudo o que tinham, cidades foram devastadas e muitas pessoas foram mutiladas pela guerra. Quando o circo passa pelas cidades, sobrevivendo ao caos, algumas pessoas não vêem opção mais tentadora que se juntar a ele, e assim o fazem.
Para o Governo, tais figuras são armas em potencial. Boss e sua capacidade de modificar as pessoas dando-lhes as mais diversas habilidades, são atrativos para a industria da guerra. O governo quer usá-la. Ela quer se proteger e acima de tudo, quer proteger ao circo. É por isso que o Tresaulti nunca fica, ou retorna a uma mesma cidade por muito tempo. Na maior parte da história estamos acompanhados de Little George, um garoto que além de uma prótese mecânica no lugar de sua perna, entrega tamanha devoção à Boss que excede à de qualquer outro membro. Little George é uma figura singela, responsável por pregar os cartazes nas cidades, e está mais que satisfeito com a sua vida no circo.
Todos os personagens são fundamentais para a trama, mas algumas figuras se destacam. É importante procurar entender cada um deles, ir a fundo nas características, para extrair o máximo da história. Carregados de ambições, alguns deles almejam uma peça há muito tempo construída por Boss, mas por ser responsável pela morte do artista mais querido por ela, essa peça hoje se encontra presa a um gancho na oficina.
A ambição desses personagens guia a trama até o fim, de modo que todas as ações dos membros da trupe são causadas por tal. As figuras, mesmo que peculiares, têm a sua carga de natureza humana, e não hesitam em ir atrás de seus objetivos. Por entender os motivos de cada personagem o livro não abre muito espaço para que o leitor tome lados quando personagens se atritam. Todos são humanos, independente de quanto de cobre eles têm dentro de si. O que impulsiona os personagens é essa vontade de estar cada vez mais alto, de cobrir as falhas de sua existência, e é assustador perceber que nem sempre isso pode ser feito.A narrativa não é das mais fáceis, e é normal se perder um pouco em algumas cenas, tendo que recapitular a ultima página. A autora tem muitas características próprias da sua escrita, e o livro é recheado delas. A história não segue uma só linha temporal e nem mesmo é sempre contada na mesma pessoa, no entanto, essas manias ajudaram a embelezar o livro ainda mais.
Genevieve sucede como mecânica -ou escritora-, ao fazer com que cada engrenagem seja fundamental para o funcionamento de todo o mecanismo da história. Cada simples ação é justificada, cada personagem tem suas motivações tão bem cravadas que conflitos são mais que presentes, porém, é majestoso ver como em situações extremas, a trupe se torna uma grande maquina a serviço de um objetivo em comum.
Genevieve sucede como mecânica -ou escritora-, ao fazer com que cada engrenagem seja fundamental para o funcionamento de todo o mecanismo da história. Cada simples ação é justificada, cada personagem tem suas motivações tão bem cravadas que conflitos são mais que presentes, porém, é majestoso ver como em situações extremas, a trupe se torna uma grande maquina a serviço de um objetivo em comum.
"Bem-vindos ao Circo Mecânico Tresaulti!", você aplaude como se sua vida dependesse disso, sem saber por quê.
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2 comentários
Ele já estava na minha lista! Preciso dele!
ResponderExcluirÉ um livro muito bonito. Eu adiei a leitura por um tempo, mas quando peguei pra ler me surpreendi demais :)
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