O Fim da Infância, de Arthur C. Clarke
12:55"Não surgiu nada parecido com ele por anos... Um autor que entende poder existir coisas com maior apelo sobre a humanidade do que a sua própria 'sobrevivência'."- C. S. LEWIS
Decidi depois de uma boa experiência já retratada aqui no blog (vide resenha de Guerra do Velho) que esse ano eu me aventuraria um pouco mais na ficção científica, gênero do qual eu sempre tive um pouco de medo, creio que por achar que os livro viriam carregados de termos físicos técnicos dos quais eu não daria conta. Enfim, decidi dar início as minhas leituras e quis começar com o pé direito e por nos primeiros lugares da fila um autor que para o mundo, é sinônimo de ficção científica: Arthur C. Clarke.
O Fim da Infância(1953) é considerado um dos livros mais importantes da ficção científica e nessa edição trazida para o Brasil pela Aleph , há dois textos extras que nunca antes vieram integrados a obra: Uma versão atualizada pelo autor nos anos 80, e o conto Anjo da Guarda, que deu origem ao livro.
PARTE I
A TERRA E OS SENHORES SUPREMOS
A TERRA E OS SENHORES SUPREMOS
A história tem início nos primeiros anos da Guerra Fria. O mundo está uma bagunça, do jeito que os seres humanos estão acostumados e consideram normal, mas tanto a Guerra quanto esse motim generalizado são logo abafados pela presença de algumas naves gigantescas que pairaram sobre as principais cidades do planeta.
"A raça humana não estava mais só". Dentro das naves, uma raça infinitamente superior ao homem usa de artifícios para alterar o curso das coisas terrenas, e ao contrário do que se pode imaginar, eles levaram o ser humano a um estado de paz e prosperidade jamais experimentado. Os Senhores Supremos, como passaram a ser chamados, usam de sua influencia e poder, para acabar com a guerra, a fome, a marginalidade, doença, e muitas outras falhas que encaminhavam a humanidade para o buraco. Através de um contato pouco direto com o secretário da ONU, um dos Senhores Supremos, Karellen, encarregado de supervisionar a terra, calcifica a soberania de sua raça em relação ao homem e dita algumas regras: Não é permitido que ninguém os conheça pessoalmente até que eles considerem que os homens estejam prontos e a exploração do espaço está definitivamente proibida. Como o próprio Karellen afirma: "As estrelas não são para os homens". Obviamente, tais imposições não são muito bem aceitas por grande parte da população (A URSS e os EUA estavam em plena disputa da corrida espacial, e naturalmente, não gostariam de ser interrompidos) e muitos reagem às regras dos Senhores Supremos. Porém, como já fora alertado anteriormente pelos novos regentes das leis terrestres: Qualquer forma de reação ou tentativa de impedir as ações destes, fracassaria. O poder que esses alienígenas têm sobre a terra é absoluto, e não há nada que o homem possa fazer para mudar isso.
"A raça humana não estava mais só". Dentro das naves, uma raça infinitamente superior ao homem usa de artifícios para alterar o curso das coisas terrenas, e ao contrário do que se pode imaginar, eles levaram o ser humano a um estado de paz e prosperidade jamais experimentado. Os Senhores Supremos, como passaram a ser chamados, usam de sua influencia e poder, para acabar com a guerra, a fome, a marginalidade, doença, e muitas outras falhas que encaminhavam a humanidade para o buraco. Através de um contato pouco direto com o secretário da ONU, um dos Senhores Supremos, Karellen, encarregado de supervisionar a terra, calcifica a soberania de sua raça em relação ao homem e dita algumas regras: Não é permitido que ninguém os conheça pessoalmente até que eles considerem que os homens estejam prontos e a exploração do espaço está definitivamente proibida. Como o próprio Karellen afirma: "As estrelas não são para os homens". Obviamente, tais imposições não são muito bem aceitas por grande parte da população (A URSS e os EUA estavam em plena disputa da corrida espacial, e naturalmente, não gostariam de ser interrompidos) e muitos reagem às regras dos Senhores Supremos. Porém, como já fora alertado anteriormente pelos novos regentes das leis terrestres: Qualquer forma de reação ou tentativa de impedir as ações destes, fracassaria. O poder que esses alienígenas têm sobre a terra é absoluto, e não há nada que o homem possa fazer para mudar isso.
PARTE II
A ERA DE OURO
A ERA DE OURO
Alguns anos após a chegada dos Senhores Supremos na Terra, os homens que aceitam e vivem de acordo com os ideais impostos são a maioria, também pudera: Todos trabalham com aquilo que realmente gostam, o índice de criminalidade zerou, a fome já não é mais um problema e todos tem mais que o suficiente, de modo que alimentação, água, energia, transporte, são todos considerados direitos básicos, passando assim a serem ilimitadamente gratuitos.
"A humanidade continuou a se deleitar na longa e ensolarada tarde de verão de paz e prosperidade. Voltaria a haver um inverno? Era impensável. A idade da razão, prematuramente acolhida pelos líderes da Revolução Francesa, dois séculos e meio atrás, agora realmente chegara. Desta vez, não havia engano"
Finalmente a humanidade está preparada para ver a face de seus líderes, e Karellen faz sua primeira aparição. Várias pessoas ficam chocadas com o que veem, mas a maioria simplesmente associa a imagem a um medo há muito esquecido e atualmente totalmente desconstruído de acordo com às suas novas vidas.
"O fato de que apenas umas poucas pessoas desmaiaram foi um verdadeiro tributo à psicologia dos Senhores Supremos, e a seus anos de cuidadosa preparação [...]"
Durante A Era de Ouro, alguns hábitos humanos relacionados à parapsicologia e fenômenos "sobrenaturais" são questionados, e a visão dos Senhores Supremos sobre esses hábitos é aguçada. Alguns personagens são indispensáveis nessa parte da história, como Jean, uma jovem que tende a se enveredar por essa área que o homem há um tempo já havia considerado desbancada. Jean passa a ser observada, mesmo que indiretamente, com a justificativa de que essa predisposição a assuntos parapsicológicos sejam indícios de algo maior, algo já esperado pelos Senhores Supremos.
"A humanidade continuou a se deleitar na longa e ensolarada tarde de verão de paz e prosperidade. Voltaria a haver um inverno? Era impensável. A idade da razão, prematuramente acolhida pelos líderes da Revolução Francesa, dois séculos e meio atrás, agora realmente chegara. Desta vez, não havia engano"
Finalmente a humanidade está preparada para ver a face de seus líderes, e Karellen faz sua primeira aparição. Várias pessoas ficam chocadas com o que veem, mas a maioria simplesmente associa a imagem a um medo há muito esquecido e atualmente totalmente desconstruído de acordo com às suas novas vidas.
"O fato de que apenas umas poucas pessoas desmaiaram foi um verdadeiro tributo à psicologia dos Senhores Supremos, e a seus anos de cuidadosa preparação [...]"
Durante A Era de Ouro, alguns hábitos humanos relacionados à parapsicologia e fenômenos "sobrenaturais" são questionados, e a visão dos Senhores Supremos sobre esses hábitos é aguçada. Alguns personagens são indispensáveis nessa parte da história, como Jean, uma jovem que tende a se enveredar por essa área que o homem há um tempo já havia considerado desbancada. Jean passa a ser observada, mesmo que indiretamente, com a justificativa de que essa predisposição a assuntos parapsicológicos sejam indícios de algo maior, algo já esperado pelos Senhores Supremos.
PARTE III
A ÚLTIMA GERAÇÃO
A ÚLTIMA GERAÇÃO
Alguns seres humanos criaram uma forma de resistência pacífica a algumas regras dos Supremos. Com a chegada dessa nova raça na terra, o homem foi perdendo a sua pré-disposição a arte, que muitas vezes vinda do caos, do desconforto ou da tristeza, já não mais fluía nos artistas, que agora satisfeitos com todos os aspectos de suas vidas, buscavam produzir no trabalho algo que fosse útil para o desenvolvimento científico do ser humano em outras áreas. No entanto, uma ilha chamada Nova Atenas, mantinha o modo de vida antigo. Nessa ilha, a arte ainda era uma constante no cotidiano das pessoas. Nas escolas, as crianças eram ensinadas da maneira "tradicional", fazendo o uso de pinturas, desenhos, desenvolvendo técnicas de artesanato, etc. E é pra Nova Atenas que vai Jean, acompanhada dos filhos e de seu marido George, que aceita uma proposta de emprego na ilha. Os mistérios a cerca dos Senhores Supremos vão se desenrolando aos poucos e ninguém sabe nada sobre eles além do que eles permitem. Em um largo espaço de tempo a história se desenvolve, tal desenvolvimento é acompanhado de ações importantes para a trama e alguns nomes acabam sendo mais presentes, mas cada personagem é valoroso para que as reviravoltas fossem tão bem orquestradas.
Ninguém sabe o futuro que espera a humanidade, ninguém imagina um fim para A Era de Ouro. As coisas estão muito boas, tudo flui com uma leveza que há uns séculos seria impensável. Mas com que objetivo Os Senhores Supremos fizeram da humanidade esse organismo pacífico, repleto de fartura e felicidade? Quais são suas verdadeiras motivações?
Ninguém sabe o futuro que espera a humanidade, ninguém imagina um fim para A Era de Ouro. As coisas estão muito boas, tudo flui com uma leveza que há uns séculos seria impensável. Mas com que objetivo Os Senhores Supremos fizeram da humanidade esse organismo pacífico, repleto de fartura e felicidade? Quais são suas verdadeiras motivações?
"Nunca saberiam como tinham tido sorte. Por um período igual à duração de uma vida, o Homem alcançara tanta felicidade quanto qualquer raça poderia vir a conhecer. Fora a Era Dourada. Entretanto, essa era também a cor do ocaso, do outono. E só os ouvidos de Karellen podiam captar os primeiros lamentos das tempestades de inverno.
E só Karellen sabia com que inexorável rapidez a Era Dourada se aproximava do fim"
Não é das tarefas mais fáceis fazer uma crítica sobre uma obra tão completa e de um autor tão consagrado quando Clarke, mas não tenho duvida da carga de assuntos que ele põe em questão em O Fim da Infância. Pondo um pouco de lado a trama, o leitor se depara com alguns assuntos que são tratados por Clarke com maestria. O livro lança uma saraivada de questões que, transitando por questões comuns, como religião, psicologia, parapsicologia, política, ética, etc, vêm como tapas na cara. Fica claro porque a história perturba tanto ao levantar tais questões: No fundo, não é de um ser humano de uma "realidade paralela" que Clarke fala, e sim de nós mesmos. É na nossa ferida que o dedo está entrando.
Até então eu não tive muito contato com obras de ficção científica, mas "comecei" com o pé direito ao ter escolhido C. Clarke para ser um dos primeiros.
Vale ressaltar, que esse ano o canal SyFy estreou uma adaptação do livro. Trata-se de uma minissérie de 3 episódios. Por enquanto tem sido muito bem falada, e eu já vou me programar pra assistir. Quem sabe em breve não venha a primeira resenha de um seriado por aqui!?
Espero que tenham gostado, e até a próxima postagem!
Espero que tenham gostado, e até a próxima postagem!
ASSITA AO TRAILER DA MINISSÉRIE!
Nascido em 1917, o inglês Arthur C. Clarke desenvolveu, desde cedo, o interesse pela ciência e pela ficção científica. Em um artigo técnico escrito em 1945 para o periódico inglês Wireless World, ele apresentou os princípios da comunicação por satélite, os quais levariam aos sistemas utilizados hoje.
Em 1956, Clarke mudou-se para o Sri Lanka, onde continuou a escrever seus livros e artigos. Em 2000, recebeu o título de Cavaleiro do Império Britânico pelos serviços prestados a literatura. Considerado um dos escritores máximos da ficção científica do século 2o, Sir Arthur C. Clarke ganhou inúmeros prêmios por sua obra ficcional, por seus escritos científicos e por sua inabalável confiança no potencial humano e científico, que fez dele um verdadeiro visionário.
Entre seus trabalhos mais notáveis estão O Fim da Infância, Encontro com Rama, As Fontes do Paraíso e 2001: Uma Odisseia no Espaço, sendo este último imortalizado nas telas de cinema no clássico de Stanley Kubrick.
Clarke morreu na cidade cingalesa de Colombo em 19 de março de 2008, aos 90 anos, deixando um legado literário impressionante, com mais de 100 milhões de livros vendidos.
4 comentários
Achei super interessante a resenha. Não tenho costume de ler ficção científica, mas me agradou a sua conclusão que o livro trata da nossa realidade. Certamente vou ver com outros olhos esse livro, se tiver a oportunidade de lê-lo. Bjs!
ResponderExcluirOi Val! Eu comecei a ler ficção científica há pouco tempo, mas tô achando incrível! Leia assim que tiver a chance, pois é muito bom! Obrigado pelo elogio, e volte sempre! :*
ResponderExcluirLeio ficção científica desde 1963, e tenho alguns livros de Arthur Clarke, entre eles, O fim da Infância. Gostei da sua resenha, bem acurada e sem spoilers.
ResponderExcluirVocê não faz ideia do tanto que é legal ouvir isso de um leitor "de raiz"! Eu comecei a ler ficção científica há pouco tempo, visto que tenho 18 anos, e ver que tem leitores mais velhos que gostam da resenha me deixa muito feliz.
ExcluirO Fim da Infância é um livro espetacular, deixa muita coisa pro leitor refletir a respeito.