Exorcismo, de Thomas B. Allen

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"Se a ficção consegue ser tão assustadora, imagine o poder contido na história real?"
Exorcismo é um livro jornalístico, escrito por Thomas B. Allen, repórter que investigou à fundo o caso de exorcismo que inspirou o livro Exorcista, de William Peter Blatty, e não tão mais tarde acabou gerando um dos mais marcantes filmes de terror de todos os tempos.
No Brasil, a obra foi lançada pela editora Darkside Books, que fez jus a grandiosidade e importância desse livro, e como sempre, trouxe para os leitores uma edição lindíssima. Mostrarei os detalhes da edição ao longo da postagem

                                                SINOPSE                                           

[Os nomes citados no livro foram alterados para proteger a identidade da família, como também dos demais envolvidos]
Robert Mannhaim está prestes a completar 14 anos. Ele é um menino comum: cumpre com as suas obrigações, não é desrespeitoso e é muito apegado a sua família. Robbie, como é chamado, tem um hobbie: Jogos de tabuleiro, os quais joga, na maior parte do tempo, com sua tia. Ela, sendo bem ligada à questões espirituais, apresenta a Robbie o tabuleiro Ouija. Os dois passam horas debruçados sob o jogo, vendo nele um passatempo inofensivo e se divertindo com a peculiaridade deste objeto.






Passado algum tempo, a tia de Robbie morre. Não seria um fato a se estranhar, mas logo após a sua morte, coisas estranhas começam a acontecer na casa dos Mannheim, mais especificamente no quarto de Robbie. Barulhos, batidas, e até mesmo alterações no espaço físico, são fatos que nem mesmo um membro da família não estranhe. Com o tempo, Robbie começa a ser perturbado por ataques noturnos, arranhões começam a se formar sobre a sua pele, e o garoto passou a apresentar uma força descomunal durante esses ataques. A família, preocupada, decide pedir ajuda à igreja, e é a partir daí, após passar por pastores e psiquiatras, que um grupo de padres que se mobilizaram para atendê-lo, deram início à um tenso, longo e tortuoso ritual de exorcismo.

                                               SINOPS     E                                       

Thomas B. Allen foi responsável por reunir todas as informações possíveis sobre o caso acontecido em 1949, em St. Louis, e tudo foi feito de uma forma muito real, indo ao fundo de cada informação recebida, e trazendo, no final das contas, a fonte mais completa sobre o caso que fez muita gente perder o sono. Ele contou com a ajuda de pessoas próximas ao caso, além de ter acesso ao diário do padre que foi responsável pelo exorcismo em questão. Esse diário, inclusive, está no final do livro de forma integral, com todas as anotações e até mesmo erros e equívocos do exorcista.





Se ler um livro de ficção ou até mesmo assistir a um filme, no qual atores simulam cenas grotescas, pode ser uma experiência perturbadora e até mesmo traumática, visto a quantidade de pessoas que não digeriram bem a estreia de O Exorcista, imagine então ler um livro em que os relatos feitos são reais, e no qual cabe somente ao leitor processar aquilo da maneira que ele achar mais confortável? A verdade é: Não há maneira confortável de ler Exorcismo. Esse livro é nojento, perturbador e totalmente indigesto.
De um ponto de vista externo e desconsiderando os reais motivos que causaram os dias mais tensos que a família Mannheim poderia enfrentar, o que se tem é caos, e levando em conta a imparcialidade de Thomas B. Allen ao relatar o caso, esse parece ser justamente o que o autor pretendia mostrar: Caos. Ao meu ver, mais do que levantar questões religiosas ou psicológicas, o autor quis relatar o desespero dos envolvidos. Psiquiatras tentaram achar soluções na medicina, padres tentaram a todo custo tirar o demônio que eles acreditavam ter assumido o controle do corpo e da mente do menino, e os amigos da família faziam o que lhes cabia, mas todos reunidos em torno de um objetivo: Tirar o pequeno Robbie da agonia na qual ele se encontrava e trazer a calma e o conforto de volta para a casa dos Mannheim.
Para mim, a obra funcionou muito bem assim. Ao aproximar o leitor da realidade do caso e dos dias de aflição sofridos por Robbie, o autor trouxe à superfície dos meus pensamentos, o mais puro sentimento de empatia pelos envolvidos no caso. Antes, o meu conhecimento a respeito do exorcismo era raso, e admito que de vez em quando eu o achava até cômico, mas  Allen me fez desconstruir qualquer ideia que eu tinha a respeito. E ainda desconstruídas elas ainda se encontram.

“Um documento fascinante e imparcial sobre a lluta diária entre o bem e o mal”.
- Ed & Lorraine Warren -

Confesso que tive medo de iniciar a leitura da obra. O livro parece -e é- denso demais, inquietante e questionador. Não houve um momento em que eu o li apenas por ler, cada página trazia um misto de sentimentos e opiniões que me ajudaram a desenvolver o meu ponto de vista.
Sobre a narrativa: O livro dispensa rodeios, é bem direto e isso pode fazer com que a leitura se acelere demais, então recomendo cuidado aos próximos leitores para que nenhuma informação interessante passe batido. Algumas partes do livro foram desenvolvidas demais, podendo desanimar alguns leitores que não se interessam, por exemplo, pela hierarquia da igreja católica, embora informações como essa tenham lugar apenas nas primeiras páginas. Tão logo quando os fatos principais começam, os relatos ficam mais pesados e, como eu disse, indigestos.
É impossível não atribuir o devido valor a essa obra. É bem explicito o cuidado que o autor teve para reunir os casos da forma mais verdadeira possível, tal veridicidade é provada pela presença do Diário do Exorcista, nas ultimas páginas, o qual basicamente narra, nas palavras do padre, o dia a dia daquela família enfrentando os seus demônios, sejam eles metafóricos ou reais.
Exorcismo conta também com as notas do autor que esclarecem várias questões, bibliografia, fontes e notas falando sobre de onde vieram os fatos narrados em cada capítulo. Ainda restam dúvidas a respeito do acontecimento?
O que motivou a tormenta de Robbie é um assunto à parte. A questão é que o garoto sofreu, independente da causa. Thomas B. Allen foi feliz em sua imparcialidade, criando um relato jornalistico que eu acredito ser atemporal, e que vai inquietar muitas mentes durante muito tempo. 
O fato de estar ligado à obras de ficção que vieram no rasto dos relatos, não tira a credibilidade de Exorcismo. O livro tem o que precisa para sustentar as suas afirmações, e apesar de eu recomendar para um futuro leitor a mesma imparcialidade proposta pelo livro, não poder fazer afirmações concretas pode ser uma condição bem inquietante para a mais cética das mentes.


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5 comentários

  1. Fantástica resenha, realmente de parabéns! :D Estou lendo o livro atualmente e foi exatamente isso o que senti: não há uma forma confortável ou menos perturbadora de ler "Exorcismo", ele é o que é, e não tem formulas de como "manejar", foi isso o que senti desde as primeiras páginas.

    Sobre a questão da empatia, me peguei tão envolta nessa história-relato que tive que fazer alguma busca para saber quem foram tais pessoas que participaram de tudo aquilo, de início achei que o próprio autor estava contando aquela história mas que de fato podia ser ele o Robbie (a data de nascimento me fez pensar muito sobre isso), mas depois descobri quem foram tais pessoas, e não sei bem o que eu esperava mas me surpreendi ao constatar que eram pessoas muito normais, pessoas como as que passamos ao lado na rua, e isso tornou a história ainda mais real do que já era.

    Não cheguei ao fim do livro, estou querendo mas estou me segurando também porque não sei o que esperar, mas realmente o bom do livro é que ele nos tira da zona de conforto, faz pensar, perder noites de sono pensando, escutando, lembrando... Por conta dos elementos sensoriais que ele dispõe é possível que ao finalizar eu precise de ajuda médica talvez, mas sou hoje uma grande admiradora do autor que é bastante ético em seu trabalho, e com total simplicidade admite que ainda não entende tudo sobre tal assunto, acho que ninguém entende de fato e é bom reconhecer que não somos donos de nenhuma verdade.

    Parabéns mais uma vez pela resenha, espero que volte em breve à levar uma vida normal depois dessa leitura. O.O

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    1. Essa sua teoria de que o autor poderia ser o Robbie, se voce nao tivesse conseguido desmentir, me deixaria ferrado da cabeça :o Mas, realmente, é um livro muito denso, e apesar de ser direto, tem muitas camadas. Gostei do seu destaque para a humildade do autor, é uma coisa que tinha me passado despercebido e me fez admira ainda mais ele.
      Fico feliz que você tenha gostado, seus comentários são muito bem vindos por aqui :D Ah, boa sorte com a ajuda médica depois da leitura, haha :x

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  2. Achei tão estranho que a principio teve as goteiras no quarto da avó e depois passou pro quarto dele com os arranhões. Esse livro pesa muito no leitor, nem diria que é entretenimento, mas de uma forma de se fazer questionar mesmo.

    Ótima resenha

    Beijos.
    vidaemserie.com

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    1. Todos os livros fazem com que a gente seja um pouco diferente depois de terminar a leitura, mas esse daí é um caso estrondoso, realmente pesa muito no leitor.
      Obrigado, Kamylla!
      Beijos, e volte sempre :D

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O Adoráveis Dias de Cão é um blog sobre livros, filmes, séries e afins. Criado por Leo, que há uns anos faz uso de altas doses de ficção e fantasia e entende que, não só de realidade viverá o homem.